Auto da Barca do Inferno

Resumo

Auto da Barca do Inferno é um auto onde o barqueiro do inferno e o do céu esperam à margem os condenados e os agraciados. Os que morrem chegam e são acusados pelo Diabo e pelo Anjo, mas apenas o Anjo absolve. 
O primeiro a chegar é um Fidalgo, é seguido por um agiota, por um Parvo (bobo), por um sapateiro, por um frade, por uma cafetina, e um judeu, um juiz também vai, por um promotor, por um enforcado e por quatro cavaleiros. Um a um eles aproximam-se do Diabo, carregando o que na vida lhes pesou. Perguntam para onde vai a barca; ao saber que vai para o inferno ficam horrorizados e se dizem merecedores do Céu. Aproximam-se então do Anjo que os condena ao inferno por seus pecados. 
O Fidalgo, o Onzeneiro (agiota), o Sapateiro, o Frade (e sua amante), a Alcoviteira Brísida Vaz (cafetina e bruxa), o judeu, o Corregedor (juiz), o Procurador (promotor) e o enforcado são todos condenados ao inferno por seus pecados, que achavam pouco ou compensados por visitas a Igreja e esmolas. Apenas o Parvo é absolvido pelo Anjo. Os cavaleiros sequer são acusados, pois deram a vida pela Igreja. 
O texto do Auto é escrito em versos rimados, fundindo poesia e teatro, fazendo com que o texto, cheio de ironia, trocadilhos, metáforas e ritmo, flua naturalmente. Faz parte da trilogia dos Autos da Barca (do Inferno, do Purgatório, do Céu). 
Cada um dos personagens focalizados adentram a morte com seus instrumentos terrenos, são venais, inconscientes e por causa de seus pecados não atingem a Glória, a salvação eterna. Destaque deve ser feito à figura do Diabo, personagem vigorosa que conhece a arte de persuadir, é ágil no ataque, zomba, retruca, argumenta e penetra nas consciências humanas. Ao Diabo cabe denunciar os vícios e as fraquezas, sendo o personagem mais importante na crítica que Gil Vicente tece de sua época. 

 

Personagens: 

  • Fidalgo: um manto e pajem (criado) que transporta uma cadeira de espaldas. Estes elementos simbolizam a opressão dos mais fortes, a tirania e a presunção do moço.
  • Onzeneiro: bolsão. Este elemento simboliza o apego ao dinheiro, a ambição , a ganância e a usura.
  • Sapateiro: avental e formas de sapateiro. Estes elementos simbolizam a exploração interesseira, da classe burguesa comercial.
  • Parvo: não traz símbolos cénicos, pois tudo o que fez na vida não foi por maldade. Esta personagem representa a inocência e a ingenuidade.
  • Frade: uma Moça (Florença), uma espada, um escudo, um capacete e o seu hábito. Estes elementos representam a vida mundana do clero, e a dissolução dos seus costumes.
  • Alcoviteirahímenes postiços, arcas de feitiços, armários de mentir, furtos alheios, jóias de vestir, guarda-roupa de encobrir, casa movediça, estrado de cortiça, coxins e moças. Estes elementos representam a exploração interesseira dos outros, para seu próprio lucro e a sua actividade de alcoviteira ligada à prostituição.
  • Judeu: bode. Este elemento simboliza a rejeição à fé cristã, pois o bode é o simbolo do Judaísmo.
  • Corregedor e Procurador: processos, vara da Justiça e livros. Estes elementos simbolizam a magistratura.
  • Enforcado: "baraço" (a corda com que fora enforcado) ao pescoço. Este elemento representa a sua vida terrena vil e corruptível.
  • Quatro Cavaleiros: cruz de Cristo, que simboliza a fé dos cavaleiros pela religião católica.

(os elementos cénicos dos quatro cavaleiros não representam os seus pecados, tanto que eles foram para o Paraíso.)